O início da vida adulta pode ser difícil
- Paula Mendonça
- 22 de set. de 2023
- 5 min de leitura
Atualizado: 28 de jun. de 2024
Qual criança nunca se pegou imaginando "o que quer ser quando crescer"? A infância é um período de sonhos e expectativas, mas à medida que nos tornamos adultos, percebemos que encontrar nossa verdadeira identidade e caminho na vida pode ser um desafio complexo. Aos 20 e poucos anos, muitos de nós esperávamos já estar com estas respostas e, ao menos, ter a perspectiva de um futuro: um relacionamento estável, um bom emprego e, até mesmo, possuir nosso próprio carro e casa.
No entanto, a realidade muitas vezes difere das expectativas. Olhamos ao nosso redor e parece que todos já estão, pelo menos, no caminho certo para descobrir seu propósito. Enquanto isso, nós nos encontramos diante de um presente e futuro incertos, o que costuma gerar ansiedade e frustração.
Se você se identificou, este post é para você

A crise dos "20 e poucos anos"
Os "20 e poucos anos" marcam a transição entre a adolescência e a idade adulta. É um período de profundas mudanças na esfera física, psicológica e social, que podem nos atingir de forma abrupta e desafiadora. Como em uma crise existencial, muita coisa parece não fazer mais sentido, o mundo parece ter perdido seu brilho e nos sentimos sozinhos e desamparados. A consequência disto são fortes pensamentos que se contradizem a todo o momento:
Por um lado... | Ao mesmo tempo em que... |
sentimos nostalgia pelos tempos mais simples e estáveis da infância | sentimos entusiasmo em explorar novas possibilidades e o futuro que está por vir |
sentimos que deveríamos estar mais focados em nossas responsabilidades | sentimos que deveríamos nos libertar das expectativas e simplesmente viver o momento presente |
sentimos o peso da responsabilidade de tomar decisões que afetarão nosso futuro | sentimos o impulso de arriscar e sair da nossa zona de conforto |
Embora esses sentimentos e pensamentos ambíguos possam ser desgastantes e confusos, é importante lembrar que fazem parte de um processo natural de evolução emocional. Nesta fase da vida ainda estamos compreendendo e aceitando qual é a nossa história até aqui, quem somos hoje e onde queremos estar amanhã. A habilidade de autoconhecimento e autocompaixão por si mesmo podem reduzir o autocrítico e o julgamento excessivo, aumentando a sensação de bem-estar emocional. Mas esta não é uma jornada fácil.
Afinal...
Nesse momento, somos confrontados com o fechamento de diversos ciclos e o início de novas etapas, o que pode suscitar uma série de emoções contrastantes. Alguns se sentirão despreparados, como se tudo estivesse acontecendo rápido demais, enquanto outros podem se sentir estagnados, lutando para encontrar seu caminho.
Além disso, durante esse período, as responsabilidades aumentam, e as decisões que tomamos parecem ter um impacto cada vez maior em nossas vidas, o que pode gerar pressão significativa. A sociedade, a família e até nós mesmos muitas vezes criamos expectativas de que, aos 20 e poucos anos, já deveríamos ter uma vida estabilizada, com metas claras e uma visão do futuro.
Algo que pode intensificar esses sentimentos de inadequação é a comparação constante com outras pessoas, especialmente através das redes sociais. As imagens perfeitamente editadas e os relatos de sucesso podem criar uma ilusão de que todos ao nosso redor estão alcançando seus objetivos, enquanto nos sentimos "ficando para trás".
Todas essas mudanças sem controle e equilíbrio, podem desencadear ansiedade e preocupação excessiva.
Algumas das angústias mais comuns da crise:
1. Afastamento da infância e chegada da vida adulta
Com a chegada da vida adulta, tudo ao nosso redor "se torna adulto". Não é à toa que sentimentos de melancolia e saudade da infância muitas vezes emergem nesse período. A infância representa um momento de relativa inocência, responsabilidades limitadas e uma sensação de segurança proporcionada pela família e pelos amigos de longa data. A transição para a idade adulta exige que enfrentemos desafios mais complexos e tomemos decisões que moldarão nosso futuro. Essa mudança pode criar uma sensação de perda e desconexão, à medida que nos deparamos com as realidades do mundo real.
Nessa fase de transição, é comum olhar para trás e ver os momentos da adolescência com nostalgia e os desafios da vida adulta com apreensão. O equilíbrio entre manter as lembranças queridas da infância e enfrentar as responsabilidades adultas pode ser difícil de encontrar. Essa dualidade pode levar a uma busca interna por identidade e significado, à medida que tentamos reconciliar nosso passado com nossas aspirações para o futuro.
2. Pressão para construir uma carreira de sucesso
À medida que entramos na fase dos "20 e poucos anos", muitos de nós nos deparamos com a crescente pressão de construir uma carreira de sucesso. A sociedade frequentemente valoriza realizações profissionais como um sinal de status e autossuficiência. No entanto, essa busca pela carreira perfeita pode ser acompanhada por sentimentos de incerteza e autodúvida. As decisões relacionadas a escolhas de estudos e carreiras muitas vezes parecem permanentes e cruciais, intensificando a pressão para fazer a escolha certa.
É comum sentir-se perdido ou indeciso sobre o caminho profissional a seguir. A comparação com colegas que aparentemente estão trilhando carreiras bem-sucedidas pode gerar ansiedade e insegurança. Encontrar uma carreira que se alinhe com nossos interesses e valores requer autoconhecimento e exploração, mas também exige paciência e aceitação de que o progresso nem sempre é linear.
3. Pressão para estar em um relacionamento
Nessa fase, é comum que amigos, familiares e até mesmo a sociedade em geral expressem expectativas relacionadas ao estabelecimento de um relacionamento amoroso. A ideia de encontrar um parceiro muitas vezes é romantizada como parte essencial da vida adulta. No entanto, a pressão para estar em um relacionamento pode ser avassaladora e levar a escolhas baseadas no medo de ficar sozinho ou de não atender às expectativas dos outros.
Essa busca por um relacionamento pode ser agravada pela exposição constante a imagens de casais felizes nas redes sociais. A comparação com os relacionamentos aparentemente ideais de outras pessoas pode levar a sentimentos de inadequação e solidão. É crucial lembrar que a qualidade de um relacionamento não deve ser medida pela pressão externa, mas sim pela compatibilidade, respeito mútuo e crescimento pessoal.
Parece difícil, mas acredite: é possível viver seus "20 e poucos anos" de forma leve e consciente
Diante de tais desafios emocionais, é fundamental entender que a transição para a vida adulta é uma jornada pessoal e única para cada indivíduo. Não há uma linha reta a seguir, e é normal enfrentar incertezas e dificuldades ao longo do caminho. É importante reconhecer que os altos e baixos fazem parte do processo de crescimento e que o autoconhecimento é uma jornada contínua.
Uma abordagem positiva para enfrentar essas dificuldades emocionais é buscar apoio emocional e psicológico quando necessário. Conversar com amigos, familiares ou um profissional de saúde mental pode fornecer uma perspectiva externa valiosa e ajudar a desenvolver habilidades para lidar com as pressões e incertezas da vida adulta.
Além disso, praticar o autoconhecimento e a autocompaixão aceitando que todos têm seu próprio ritmo de crescimento pode aliviar a pressão que colocamos sobre nós mesmos. Devemos lembrar que a vida adulta é uma jornada contínua de aprendizado e crescimento, e não há um ponto de chegada definitivo, requer paciência, autoconhecimento e abertura para novas experiências.
Lembre-se também que, apesar das dificuldades, a vida adulta também traz consigo uma série de oportunidades emocionantes para o autodesenvolvimento, a autodeterminação e a construção de relacionamentos significativos.
O que acha de caminharmos juntos nesta construção?
Autora: Me. Paula Mendonça Camargo Eduardo
Psicóloga Mestre (UNIFESP), com formação em Transtornos de Ansiedade e de Humor (USP).
Comments